27 setembro 2016

Callot

Marie, Marthe e Regina
Soeurs Callot 
(Irmãs Callot / Callot Sisters)

Maison formada por quatro irmãs, Marie Callot Gerber, Marthe Callot Bertrand, Regina Callot Tennyson-Chantrell e Joséphine Callot Crimont, francesas de origem russa, filhas de Marie-Julie Rival que, com o casamento virou Marie-Julie Callot, rendeira e de Jean-Baptiste Callot, artista, pintor.

Inicialmente, seu pai alugou uma loja (1879) onde elas vendiam rendas e enfeites por elas confeccionados, na Place de la Trinité,  já sob o nome "Callot Soeurs". (1)

A mais velha, Marie, trabalhou na "Raudnitz et Cie" entre 1881 e 1890, chegando a ser "primeira", ou seja, a responsável por toda uma equipe.


1910
(Pequeno comentário: Há uma foto indicada como sendo das irmãs que não me pareceu razoável, visto que, nesta foto acima, elas se parecem entre si, têm praticamente a mesma altura e as pessoas na foto da direita não.  Além disso, a foto de Marie Gerber mais velha se parece com a primeira moça da esquerda, mas não combina, em nada, com qualquer uma daquelas na foto da direita. A foto vem de um cartão postal (2) e me parece mais que sejam modelos, clientes ou costureiras da casa. A janela é exatamente aquela do endereço abaixo).

24, rue Taitbout - Letreiro Callot Soeurs


Em 1895, montaram negócio próprio, no nº 24, rue Taitbout, Paris, France.

Em 1897, Joséphine cometeu suicídio e a empresa continuou com as outras três (que estão na foto).

Logo alcançaram grande sucesso.  Em 1900, elas empregavam 600 pessoas e se posicionaram entre as empresas mais representativas da costura francesa na Exposição Universal.

1899 (MET) seda bordada


No ano seguinte, somaram negócios de quatro milhões de francos e puderam quitar todos os seus empréstimos.

1900 - MET -
seda com fio de metal
doado em 1935 por
Susan Dwight Bliss

Passaram pela maison, como costureiras, Louise Boulanger, que também montou seu próprio negócio,  Georgette Renal e Madeleine Vionnet (entre 1901 e 1907).

Mme Vionnet associava seu próprio sucesso ao treinamento que recebeu na maison Callot Soeurs e dizia: "sem o exemplo das Irmãs Callot, eu teria continuado a fazer Fords. Por causa delas é que eu tenho tido habilidade para fazer Rolls-Royces."

Também teria dito que "os vestidos de Marie Gerber eram verdadeiras obras de arte" e que a designer parou de fazer vestidos que exigissem espartilhos em 1903.

1900 - MET
Ainda de acordo com Vionnet, Madame Gerber era amiga do crítico e colecionador de arte Edmond de Goncourt, com quem compartilhava o interesse no Oriente e no design rococó do século XVIII.

O salão das irmãs nesta época refletia essas duas influências e elas recebiam as clientes em uma sala no estilo chinês com laca, seda e móveis Luís XV....

1910/1915
MET doada
por Acosta
Proust em sua obra "Em busca do tempo perdido" menciona vários costureiros da época, inclusive Callot, comentando, especialmente, o uso da renda:

- "(...) Na realidade, há poucos costureiros, um ou dois, Callot, embora use um pouco demais a renda, Doucet, Cheruit, às vezes Paquin. O resto é um horror.
- Mas, então, há uma diferença imensa entre uma roupa de Callot e aquela de um costureiro qualquer? perguntei a Albertina.
- Mas enorme, meu querido, me respondeu ela. Oh, perdão, há somente um porém! O que custa 300 francos lá fora, custa dois mil francos neles. Mas aquilo lá não se parece, aquilo só tem um ar parecido para as pessoas que não conhecem nada disso."











1907: Palais Galliera, musée de la Mode de la Ville de Paris - Vestido Cartago
Tule bordado sobre cetim, pérolas falsas e cabochons azuis.

1907 - MET
seda, metal e penas (?)
Um artigo de 3 de outubro de 1909 entitulado "The Rue de la Paix Made the World of Fashion Marvel by Its Showing of Russian and Barbaric Costumes, publicado no New York Times explicou a hierarquia das marcas de acordo com o uso das roupas segundo o horário do dia:

[…] a única resposta possível é que tudo depende do que se deseja, seja um vestido para sair à rua, um vestido para tarde ou um vestido para a noite.  

E ainda assim não há uma linha de demarcação absoluta. 

Somente de forma geral pode-se organizar desta maneira: 
Drécoll e Bechoff-David para a rua, Beer e Redfern para a tarde e roupas de teatro mais arrumadas, Worth e Callot para vestidos de noite"




1909: Gregg Museum
Vestido azul real com cintura império, mangas curtas e cauda de peixe. A saia tem lantejoulas quadradas em tule sobre cetim, no centro da frente, há, também, grandes gemas.






1909 - Les arts Décoratifs:

Cetim de seda recoberto de tule metálico e tule de seda, galão de tule bordado de lâminas lisas e "guillochées", e de pérolas, volant de renda metálica, glands e franja de passamanaria em canutilhos.

























1909 - MET (seda)

1910 - MET:
algodão, seda e metal, da coleção Jacqueline Loewe Fowler

Vestido estilo diretório.

Neste, as lantejoulas variam. Algumas são presas em uma filigrana parecida com uma cabeça de alfinete, outras são planas, em algumas, o metal se sobrepõe a um cristal facetado. Toda essa ornamentação não decorre somente do prazer da diversificação, mas é calculada para produzir efeitos mágicos dependendo da superfície que é vista e da luz das velas.




Mrs. Rita de Acosta Lydig era uma socialite norte-americana, conhecida por sua beleza e personalidade.

Seu extenso guarda-roupas foi a base da coleção do "The Costume Institute at the Metropolitan Museum of Art" en seu início em 1937.

Comprou muitos vestidos das irmãs Callot.
Nesta pintura, de 1911, do pintor Giovanni Boldini, ela usa um vestido quase sem costuras, feito de uma única peça de renda do século XI, que lhe custou nove mil dólares.

A maison tinha com ela um relacionamento especial, fazia-se o que ela queria. E valia a pena, porque ela nunca pedia um vestido só, mas uma dúzia a cada vez.... (3)

As peças da foto abaixo pertenciam a ela.






1911 - MET:
Seda, algodão, fio metálico e contas de metal



9, av. Matignon
Em 1912, sua equipe havia aumentado para 1.000 pessoas e o volume de negócios para 6 milhões de francos, algo colossal para a época.

O imóvel teve que ser derrubado pelas obras do Boulevard Haussmann. Então, em 1907, elas compraram um terreno no nº 9, Avenue Matignon onde construíram um belíssimo imóvel no qual se instalaram em 1914 (No endereço hoje funciona a Christie's).





Pelo tamanho e luxo do prédio podemos comprovar o sucesso que já tinham alcançado....






Nesta época é que começaram a colocar data nas etiquetas. (5)




Ainda em 1914, como membros do Sindicato da Defesa da grande costura francesa, estabeleceram controles para proteger as criações oficiais dos designers  (Ao lado, indicação de um processo por elas movido por cópia indevida - publicado em "La Mode Devant les Tribunaux").

A casa permaneceu aberta durante a Grande Guerra.  As irmãs participaram, em 1915, da "Pacific Panama International Exposition" em São Francisco na California.

1916/17 - MET: silk, glass, metal

Novamente o New York Times, agora em 1917, descrevendo a  nova moda:

"(...) babados são populares neste estabelecimento (Callot), do tipo que contorna o rosto e cai solto (...) os pingentes de seda são empregados quando o vestido é bordado (...) Simplicidade é a nota principal de todos os efeitos e tudo é jovem. Superfícies macias estão na ordem do dia (...) Veludo de lã é um tecido favorito dessa casa, como o "duvetin" e alguma gabardina. (...) Um vestido, notável na coleção era de veludo marinho com acabamentos em castor. Este tom também é favorito (...) como o amarelo conhecido como açafrão. Combinado com preto, o conjunto é extremamente atrativo. Outra combinação vista foi de roxo e verde (...) Muitas criações com renda estão na coleção. As saias estão no comprimento do topo do sapato, são estreitas e todas têm um ar de conforto. Os vestidos de noite têm a bainha irregular (...)" (4)

1920 - MET: seda e fio de metal

Em um artigo da revista "Les Modes" de 1920:
" (..) Madame Gerber é a mais velha das irmãs Callot. Como todos os criadores, ela não sai muito. É preciso conseguir audiência. 
Enquanto que as Madames Paquin ou Jenny, MM. Redfern, Doucet, Doeuillet, Poiret são personalidades bem parisienses com as quais se cruza nos corredores do teatro, nas corridas de cavalos, nos banhos de mar, ninguém pode se vangloriar de ter percebido Madame Gerber na vida corriqueira. Ela cria a moda como Deus o Pai criou o mundo, longe dos indiscretos. (..) 
Madame Gerber-Callot me recebeu, com a gravidade de uma Madre, em um tipo de salão austero, nu como um recinto de um convento. Inclusive, nenhum sacrifício à arte da toilette por sua própria conta: um peignoir de mousseline do qual emergia uma gola poderosa coroada por uma figura grave, de uma calma um pouco desdenhosa :
- Nós fazemos viver trinta mil pessoas! ela me declarou abruptamente. (...)"
Marie Gerber em sua residência.
Um pouco atrás, Marthe Bertrand.



Marthe faleceu subitamente em 1920, e Regina, viúva, se afastou para cuidar de seu filho. (3)

À direita, foto da casa de Marie onde ela aparece em primeiro plano, com Marthe logo atrás,  reproduzida no livro "Les Moires suivies du Journal de Mirande" escrito em 1978 por Lydie Chantrell, neta de Regina.

 

À esquerda, carta manuscrita de Marie Gerber (1919) onde ela fala da perda de seu marido e da irmã Josephine, bem como dos ferimentos de guerra de seus filhos.



Marie ficou à frente do negócio pelos sete anos seguintes, acompanhada de seus filhos, Pierre e Jacques.



Jacques se dedicou à produção de perfumes.


Callot lançou vários, entre eles um que reflete bem a inspiração oriental:
"A filha do rei da China".




Forvil era apresentado em um vidro Lalique, luxo dos luxos...








1921 - MET:

Este vestido iria participar da mostra Chic Chicago. Infelizmente, o belo tecido de brocado de lamê dourado, bordado de pequenas contas e com um grande broche ficou tão pesado que as alças muito leves e finas começaram a se desintegrar.
O tecido começou a esgarçar sob o próprio peso. 
Embora a equipe de conservação possa solucionar estes problemas, não havia tempo hábil para a abertura da exposição.
Pertenceu à Senhora Potter Palmer II  (Pauline Kohlsaat, casada com o diretor do First National Bank of Chicago) e, depois, doado ao Museu de História de Chicago.






As irmãs Callot vestiam muitas atrizes, Cécile Sorel, Jeanne Graiser e Eve Lavallière e, também,as mais ricas mulheres do planeta: Elisabeth d'Autriche, Mesdames Rothschild, Meunier, Eiffel, etc.

As americanas chegavam em juho e encomendavam entre 300 e 800 peças.... (3)

Um artigo de janeiro de 1922 publicado no Ladie's Home Journal dizia "Callot provavelmente tem mais clientes ricos que qualquer outro estabelecimento no mundo. Eles vêm da Amérida do Sul, da África do Sul e até do mais longínquo oriente, como o Japão."




 1922 - FIT:

Para Marie Gerber, a mulher sempre vinha primeiro:
"O vestido é tudo aquilo que deveria ser parte da mulher, não a mulher parte do vestido"(3)



























1922 - MET:


1923 - MET:
1923:
 





Mme Gerber é tida como a primeira pessoa a criar modelando os tecidos diretamente sobre o corpo das modelos, método hoje conhecido como modelagem ou "draping", que suas costureiras seguiam, inclusive Vionnet.



1924: FIT de Chicago

Crepe de chine de seda preto, lamê dourado e tule.

De inspiração oriental, lembra o panejamento de um sari indiano e a superfície brilhante da laca chinesa, enfatizando tanto o exotismo como a modernidade do estilo Art Déco.

Marion Morehouse 1924

1924-25: MET (seda)

Na década de 20 a empresa abriu filiais em Nice, Biarritz, Buenos Aires e Londres e participou da Exposição Internacional das artes decorativas e industriais modernas de 1925 em Paris.














1925:

1925 - Goldstein Museum ou (?) MET - seda


Estes dois vestidos de seda apresentam longas e fluidas versões das mangas vistas nos casacos Otomanos.

As Callot eram mais conhecidas pela inspiração chinesa, mas os estilos Persa-Turco freqüentemente compartilham do mesmo sentido da cor.





Mrs P Nightingale 1926 - Fox Historic Costume Collection

Em 1927, Marie, com 70 anos, morria.
Le Figaro publicou um obituário dizendo: "Uma das figuras mais bonitas do negócio de luxo de Paris hoje desapareceu."

Vionnet disse sobre Madame Gerber: "era uma grande dama que se ocupou com uma profissão que consiste em enfeitar mulheres... não construir uma roupa"

Seu filho Pierre Gerber continuou os negócios mas sem muito sucesso.

Isabelle Huppert, tataraneta de Marthe Bertrand, afirmou em uma entrevista para ParisMatch:  "a crise de 1929 foi fatal para a empresa da família".




1927:
Panne de velours imprimée, tulle de soie, broderie de perles de verre.


 
1928: Chicago - Seda charmeuse, bordada com pérolas e fio metálico.

1928: Philadelphia Museum of Art

Conjunto de apresentação na Corte: Vestido, cauda, combinação, enfeite de cabeça e leque. Vestido de seda e lamê com tule, lantejoulas e strass. Combinação de cetim de seda. Leque e enfeite de cabeça de penas de avestruz.
1929:

1931:

Óleo sobre tela de Giulio de Blaas (Italian, 1888-1934) retratando Marjorie Merriweather Post quando foi apresentada na corte de St. James.

E o vestido, que está no
Hillwood Estate, Museum & Gardens.







1933: Palais Galliera- Musée de la mode de la ville de Paris

Este foi doado por Lydie Chantrell, neta de Regina:

Cetim de seda preto e marfim. Fivelas em baquelita preta. Forro em crepe acetinado de seda marfim.

A predileção dos anos 30 pelo crepe e o cetim que favorecem o corte em viés e pela oposição do preto com o branco se exprime plenamente neste conjunto marcado pelo classicismo.







A maison mudou para avenue Montaigne em 1934 e, em 1935 foi comprada por Marie-Louise Calvet da maison Calvet. Ambas fecharam as portas em 1953/54.
Em 1988, os direitos da Maison de couture Callot foram comprados pela família Lummen, conhecida por ter relançado a marca Vionnet em 1995.


1935: Robe "Marie Galante" - Les Arts Décoratifs
Renda mecânica de albene vermelho vivo.




Finalmente, como Diana Vreeland escreveu em "Inventive Paris Clothes, 1909-1939", 
“Os vestidos Callot eram perfeitos em cada detalhe".



Seu nome foi escolhido para figurar em placas comemorativas na calçada da Av. Montaigne, em Paris, junto com Poiret, Paquin e Vionnet.


(1) http://www.ladentelledupuy.com/index.php?page=reportages_detail&id=42

(2) http://www.diktats.com/french/maison-callot-soeurs-24-rue-taitbout-a-paris-circa-1916.html#.V-Kk1eRQQzE

(3) "The Great Fashion Designers" - Brenda Polan e Roger Tredre

(4)http://query.nytimes.com/mem/archive-free/pdf?res=9C04E5DB113BE03ABC4F53DFB667838C609EDE

(5) "Elements of Fashion and Apparel Design" - G. J. Sumathi

http://www.newyorker.com/magazine/2015/03/23/twenty-one-dresses
http://www.philamuseum.org/
http://www.fashionmodeldirectory.com/
http://www.metmuseum.org
http://collections.lesartsdecoratifs.fr
http://www.palaisgalliera.paris.fr
http://a80-musees.apps.paris.fr/
http://fashionmuseum.fitnyc.edu/
goldstein.design.umn.edu/
https://gregg.arts.ncsu.edu/
http://www.alaintruong.com/
http://www.lefavori.com/les-soeurs-callot/
http://www.fashionmodeldirectory.com/designers/louise-boulanger/
http://www.canalblog.com/
http://www.parismatch.com/People/Cinema/Isabelle-Huppert-descendante-des-Soeurs-Callot-602878
Les Moires suivies du Journal de Mirande (1978) - Lydie Chantrell
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